quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
ARTIGO / GERALDO GOMES
Twitter e os seguidores narcísicos
Geraldo Gomes
geraldo.sg.@unitins.br
Franceses cansados de ficar como loucos na hora do tráfego carregado do retorno trabalho-casa adquirem um anti-GPS. Da vida tão planejada o anti-GPS, segundo eles, permite que se des-localizem pelas ruas de Paris. Saem do trânsito louco e vão conhecer praças, igrejas, monumentos, bares, sítios históricos ou ficam se deliciando em algum jardim. Eles querem se perder um pouco...
Outros estão em cenas do filme Forrest Gump. Refresco a memória fílmica daquelas cenas em que ele, a personagem central, corre, corre, corre pelas estradas e rodovias, as pessoas o enxergam como um ser messiânico e começam a segui-lo. Chega um momento no qual a verdade é exposta - ele corre, mas não sabe para onde, quem o seguiu ficou correndo com suas próprias expectativas e desejos depositados. Que tristeza ao se seguir algo e nada se ter em mãos após tanto esforço desprendido!
Vejo muita gente seguindo outras pelo Twitter. E já necessito de um anti-twitter (ou antitwitter???). Ao discutir com uma amiga jornalista esta semana sobre possíveis formadores de opinião em Palmas, percebi que são poucos os timoneiros. Tudo está embutido no Twitter, o que antes se veiculava por redes sociais mais pesadas (a orkutização familiarizada) e blogs experimentais, agora se dá em pequenas mensagens, por vezes, desconcertantes e prolixas. Não precisamos de um anti-GPS para a cidade, porque às vezes se sai do nada e chega a lugar algum com os grandes buracos e suas avenidas. Não seguir alguém pelo Twitter é ficar fora dos padrões, virar pária. Necessito de um anti-twitter.
E nessa você acaba seguindo os comedores de frutas exóticas, quitutes regionais, colecionadores de papéis higiênicos, românticos compulsivos e por aí afora. "Twittadas" que li recentemente: 1) - Na fila do check-in; 2) No embarque, aeromoça bonita; 3) Cheguei. A cidade ta kent; 4) Bexiga ta xeia, banheiro, banheiro. Os seguidores são tão diversos, não sei se o fazem por prazer ou pelo ato de pura bajulação ou pelo desejo do status em voga. Enquanto isso, fora daqui, em outros lugares reais do mundo, Facebook e Twitter auxiliam nas mudanças no Egito, no Vaticano, na Casa Branca, eles servem como veículos de resistência, organização política e mobilização.
Sem saudosismo, sinto falta das grandes manchetes e da discussão boca a boca sobre o que ocorre no mundo, não me contento com esse arremedo dedo a dedo de digitação narcísica pelo Twitter de seguidores de não sei quem para não se sabe onde.
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5 comentários:
rsrsrsrsrs
acho bem difícil certos tuiteiros narcisicos virem aqui comentar bombar
Gente narcisista tem em todo canto, no twitter isso é exacerbado. Mas isso nem me incomoda no twitter, me incomodam lá os puxa saco, os que se auto-elogiam, os que pedem empregos a políticos, os citadores que não tem idéias próprias e o mais inacreditável: o fato das pessoas ainda se admirarem com quem fala, no caso tuita, o que pensa. No twitter há tantas máscaras quanto na vida real.
Taí um artigo instigante. Só faz sentido!!!
sim o geraldo tá certo. quantos o seguem mesmo?
Abri um perfil no Twitter. Mas a primeira percepção que tive foi esta que o Geraldo expõe no artigo. Quem seguir na rede social, que não deixa de ser uma importante ferramenta de comunicação virtual? Eis a questão.
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