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DESTA VEZ PROMETEM ATÉ "ARRAIÁ"
A cada ano, o salão do livro perde foco: de evento literário para "grande festa pop"; agora com promessa de circo, cinema, parque de diversão e até "arraíá". Em estrutura provisória, custa milhões ao Estado. Falta detalhamento e transparência na aplicação dos recursos.
“Se você tivesse acreditado nas minhas brincadeiras de dizer a verdade, teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando. Falei muitas vezes como palhaço. Mas nunca desacreditei na seriedade da platéia que sorria.” Usamos a frase do genial Charles Chaplin pra chamar a atenção das outras esferas do Governo do Estado, já que na Secretaria da Educação – SEDUC não se pode opinar. Explicamos melhor isso já.
O Estado, num repeteco do ano passado, já alardeia o Salão do Livro/2011 como “um dos maiores e mais importantes eventos literários do Norte/Nordeste brasileiro”. Ta lá no site da Seduc, que abriu um fórum para ouvir sugestões da população, mas modera comentários. Só publicarão o que passar no crivo de uma “equipe”. Seguramente, o que convém aos interesses da produção do evento.
Quanto ao alarde de agora (“um dos maiores”), dão só um descontinho em relação ao megalomaníaco governo anterior, que propagou o salão como “o maior” do Norte/Nordeste, mesmo sem ser. Isso na maior cara limpa e em tom eleitoreiro, o que é pior. Eram os tempos do governador tampão acelerado, Carlos Gaguim. Alguém lembra?
MAIS DO MESMO
Este ano, ao que parece, teremos mais do mesmo, embora estejam anunciando mudanças, como grandes shows musicais em espaço aberto. Falamos em “mais do mesmo” porque – tirando o tom eleitoreiro; não é tempo de eleição ainda – o salão/2011 terá o mesmíssimo formato: tendas gigantescas climatizadas serão montadas e depois desmontadas, numa peleja de meses, para que a “festa” de 10 dias aconteça, de 1º a 10 de julho, na Praça dos Girassóis.
Além da “casca” de metal e lona, vale ressaltar, montarão mais uma vez todos aqueles apetrechos internos: palcos, pisos, decorações temáticas, auditórios, praças de alimentação e vivência, enfim; tudo aquilo e, claro, o “café literário”. Este, sim; não pode faltar.
CAFÉ LITERÁRIO é aquele auditoriozinho de madeirite encarpetado feito para a promoção de alguns lançamentos e apresentações de artistas locais. Sem ele a festa perde sentido. Até porque talvez seja mesmo o principal gancho para que o salão gigantesco ganhe o apelido de “literário”, mote em que o Estado se sustenta para fazer o gasto milionário anual.
Nos desculpem se parecemos irônicos, mas é que não dá pra aceitar. Sempre ficaram devendo ao povo argumentos convincentes (além de transparência) que justificassem os “investimentos” públicos. Para fomentar a leitura e o entretenimento cultural de cunho literário, convenhamos, não precisa tanta pirotecnia e empreendimento arquitetônico temporário.
Serão gastos dias e noites a fio no trabalho de montagem e desmontagem de uma estrutura já bem conhecida de todos. Pelo porte do empreendimento e pelo trabalhão que dá, deve ser um excelente negócio, principalmente para quem é do ramo de locação de tendas gigantescas climatizadas e especialista em montar Brasil afora o modelito pop de salão do livro, numa espécie de pacote indissociável. Provavelmente a mesma empresa de anos anteriores virá aqui faturar.
CIRCO E QUADRILHA
Agora, completando a dose, a Seduc anuncia que pretende agregar ao pacote outras atrações, como circo, cinema, parque de diversão e (imaginem) até “arraiá”. Sim, anunciaram a possibilidade de um espaço para quadrilhas no Salão do livro do Tocantins. Pelo visto, para a “equipe” da Seduc, atrações como quadrilhas têm tudo a ver com evento literário. Dá pra aturar? Aqui caberia até mesmo um tracadilho sugestivo com o termo quadrilha. Daria repercussão “nacioná”.
Convenhamos. Uma feira literária nos moldes das necessidades afins tocantinenses pode caber perfeitamente em espaços como o Centro de Convenções ou o Espaço Cultural, por exemplo. Não requer tanta parafernália. O que espera-se de uma feira de livro é justamente livro de qualidade e barato pra comprar; de editoras, e não de livreiros. O que espera-se de um salão de livro é uma série de eventos “literários” realmente. Feira de livro não é festa pop. Cada coisa em seu tempo e lugar.
7 comentários:
Eu não quero mais do mesmo. Por isso volto pra dizer o mesmo que disse há quase um ano neste espaço:
Para mim está muito claro. O que está em discussão não é a continuidade do salão, sua importância como feira literária ou evento de entretenimento cultural.
O que está sendo questionado é a forma equivocada com que a Secretaria da Educação vem realizando o evento há anos. Isto está mais que evidente para mim e, creio, para a maioria dos que se manifestaram nos artigos e nos comentários, desde o ano passsado
Vitória Nascimento
Educadora
Tomara que esta publicação chegue logo ao conhecimento do governador Siqueira Campos, justamente neste momento de contenção de gastos e rigor na aplicação dos recursos públicos, inclusive com demissões em massa. Tomara que isto chegue logo à mesa do governador, justamente nesta sua hora de retorno ao Governo, em que o homem público octagenário traz as lições do passado, marcado pelas experiências políticas da planície, quando teve tempo para refletir sobre o auge e o ostracismo em relação ao poder.
Tomara!
O.S.Nunes / Advogado
Vocês foram muito felizes na escolha do nome (alm@nárquica = alma anárquica; um ótimo nome) e do "mascote". Chaplin é um gênio e seu espírito crítico é imortal. Sua obra é um exemplo de vida voltada para a leveza do humor e do bem.
Também foram muito felizes em debater o tema Salão do Livro. Trazem à tona uma questão que muita gente queria ver abordada com coragem e ousadia na mídia. Até hoje, no entanto, nenhum veículo noticiou o evento pelo lado crítico e investigativo.
Parabéns pela iniciativa.
(Juliana Prado / de Araguaína, por email)
Eu nunca tinha me tocado disso. Ia no salão do livro mais pela festa pública, mesmo ficando grilada por causa das correrias nas filas dos shows e dos outros eventos. Via como festa do povão, coisa de política que eles fazem aqui no Tocantins. Uma amiga me falou do blog. Hoje penso diferente. Concordo com os protestos. Vou divulgar tb.
Parabéns, Anárquicos, excelente exposição de idéias.
É hora (já passou, até) de que este estado entenda o que é cultura.
Classificar esse imbróglio de grande evento... É algo que fica entre a alienação e a estupidez; ou está rendendo dinheirinho a "alguéns"...
Se formos elencar o que ali falta, para que mereça o título de FEIRA DO LIVRO... Falta TUDO: organização, espaço, boas editoras...
Penso que esta é a hora apropriada para que se discuta a Cultura que vem sendo fomentada no Tocantins.
Mas sempre resta a pergunta: os que ocupam cargos na área, possuem gabarito para tanto?
Sei não...
O trem tá feio!
Patricia Neme
Cônsul para o Estado do Tocantins do Movimento Poetas del Mundo
" ...O que espera-se de uma feira de livro é justamente livro de qualidade e barato pra comprar; de editoras, e não de livreiros. O que espera-se de um salão de livro é uma série de eventos “literários” realmente. Feira de livro não é festa pop... "
A última coisa que esse salão faz é fomentar leitura.
Quem está saindo no lucro? Com certeza não somos nós, pagantes.
Iatan Rezende Mendonça
Acadêmico de Medicina da UFT
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